A regulagem de instrumentos não deve ficar em segundo plano quando ocorre uma nova aquisição. Todos ficam extremamente empolgados quando compram ou ganham um instrumento. Todo músico entra em êxtase quando toca os primeiros acordes do seu mais novo companheiro musical, ainda mais quando esse tão aguardado instrumento é a realização de um sonho antigo.
O timbre, a pegada, a forma do braço, a maneira como o instrumento encaixa no corpo, todas essas surpresinhas são extremamente gratificantes no primeiro contato. Ficamos completamente envolvidos enquanto estamos conhecendo cada detalhe e possibilidade que essa nova ferramenta oferece. Estamos diante de um novo universo, e é natural que seja extremamente empolgante, e não deve ser diferente!
Mas o que fazer se todas essas sensações não se realizam quando você começa a tocar sua nova guitarra? Quando você sente que o recém adquirido violão está com as cordas altas e você não consegue extrair o melhor timbre e performance dele? Ou se o seu baixo tem conforto, mas não soa bem em determinadas regiões do braço?
É muito comum músicos, principalmente iniciantes, desistirem de aprender música por conta de dificuldades relacionadas à falta de conforto com seu instrumento, ou terem sua performance e desenvolvimento técnicos estagnados pelo mesmo motivo. Esses casos são bons motivos para você visitar seu Luthier de confiança para avaliar se uma regulagem de seu instrumento é necessária.
O que é a regulagem de instrumentos?
A regulagem de instrumentos consiste em avaliar e ajustar os componentes instalados, verificando a integridade estrutural do próprio instrumento e de todas as suas peças.
Revisão do hardware do instrumento
Durante a regulagem de instrumentos, estes passam por uma inspeção minuciosa com o objetivo de verificar se todo o hardware (peças mecânicas) está íntegro, e assim não oferecendo impedimento técnico para a realização do serviço. Todas as peças são limpas e tratadas sempre que houver necessidade.
Revisão do tensor
O tensor, peça sensível para o ajuste da curvatura do braço também é verificado para confirmar se está operando de forma correta. Existem diversos tipos de tensores, que são instalados por dentro do braço. Servem para ajustar a quantidade de alívio (relief) que é necessário para o braço funcionar corretamente.
Existe uma crença popular de que o tensor pode remover empenos ou torções, mas é importante ressaltar que essa não é a sua finalidade, muito embora possa colaborar para corrigir determinadas deformidades até um certo limite.
Revisão dos trates
Os trastes são componentes fixos que podem influenciar diretamente na qualidade da regulagem. Trastes mal colocados, desnivelados ou que não foram trabalhados de forma apropriada precisarão ser revisados antes da regulagem. Quando esses apresentarem problemas, poderá ser necessário uma retífica parcial de trastes, retífica total de trastes, ou até mesmo uma troca de trastes.
Realização da regulagem de instrumentos
Estando tudo em ordem com o hardware, tensor e trastes, dá-se início à regulagem.
Num primeiro momento o instrumento é parcialmente desmontado para limpeza, hidratação da escala e revitalização da superfície do traste (remoção de oxidação superficial e polimento). O instrumento é remontado com encordoamento novo e íntegro. Ajustamos a curvatura do braço e na sequência a ação das cordas através dos carrinhos da ponte ou rastilho e pestana. Por fim, é feito o ajuste de oitavas e o instrumento é posto para descansar.
A revisão da regulagem é feita 24h após o procedimento. Estando tudo em ordem, o instrumento já pode voltar para sua casa.
É importante ressaltar que o ajuste da curvatura do braço é feito de acordo com a tensão das cordas instaladas. Por isso, sempre que for regular seu instrumento, leve o encordoamento que deseja utilizar, ou combine com seu Luthier qual corda você deseja que ele instale.
Por que se deve fazer a regulagem de instrumentos musicais?
Imagine que, ao comprar seu instrumento, novo ou usado, de uma loja ou de um terceiro, ele já percorreu um grande caminho antes de chegar nas suas mãos. A maioria dos instrumentos disponíveis no mercado são importados, fabricados em países diversos com microclimas específicos das regiões onde as fábricas estão instaladas. Eles percorrem grandes distâncias até chegar na loja, e durante esse processo, podem ter sido aclimatados em condições não ideais, podendo passar poucos meses ou até anos nessas condições até encontrarem um novo lar.
Todo esse translado e a maneira como os instrumentos são estocados antes, durante e após chegarem no seu destino podem ser prejudiciais à sua saúde estrutural, podendo simplesmente desregular o instrumento ou induzir danos permanentes, uma vez que a maior parte deles é construído de madeira, material sensível às variações de umidade e temperatura.
São raros os instrumentos que sobrevivem com a regulagem intacta durante esse tempo, e mesmo assim, os que conseguem manter a estabilidade saem regulados de fábrica de forma genérica, já tendo em vista driblar possíveis eventualidades que possam causar danos estruturais. Tudo isso também se aplica a instrumentos fabricados no Brasil, que é um país extenso com diversos climas diferentes.
Tendo tudo isso em vista, a regulagem é o primeiro contato que seu instrumento vai ter com um Luthier profissional, passando por uma avaliação técnica precisa com o objetivo de entender se ele está funcionando de forma correta ou não.
Essa primeira avaliação poderá evidenciar se existem problemas que possam estar limitando a possibilidade de regulagem. Existem diversos motivos pelos quais os nossos instrumentos musicais podem apresentar algum problema. Esses problemas podem ter causas diversas, e é o Luthier quem vai sugerir os serviços necessários para poder colocar tudo em ordem, permitindo assim que o músico tenha sempre condições de extrair o melhor.
No sinal de qualquer desconforto, procure um Luthier qualificado, ou seu profissional de confiança para avaliar se seu instrumento precisa de algum serviço.
Quando devo realizar a regulagem de instrumentos?
A regulagem de instrumentos musicais é indicada sempre que eles forem recém adquiridos, seja para instrumentos novos ou usados. Até mesmo instrumentos antigos com a madeira estabilizada podem sofrer variações de acordo com as condições climáticas ou pela frequência de uso.
Também pode ser necessária uma regulagem nas seguintes situações:
Em caso de anormalidades
Sempre que notar-se algum padrão de comportamento diferente do usual. Cordas mais altas, trastejos repentinos, quebra de cordas com padrões específicos, dificuldade repentina de executar determinados fraseados comuns.
Ao trocar o encordoamento
Ao trocar o calibre, ou até o material da corda, o instrumento precisa de Regulagem. A tensão das cordas influi diretamente no grau de curvatura do braço. Encordoamentos mais leves tracionam menos, enquanto os mais pesados geram um arco maior. O material do encordoamento também pode influir na regulagem, cordas de Níquel tendem a tracionar menos que cordas de Inox, mesmo que tenham calibre similar.
Em caso de troca algum componente do instrumento
A substituição ou reposição de peças do Hardware do instrumento podem tornar necessária a regulagem, principalmente em instrumentos que tem sistema de ponte flutuante tipo Tremolo ou Locking Tremolo (Floyd Rose). O equilíbrio desses sistemas é fundamental para o bom funcionamento da Guitarra.
Com que frequência devo regular meu instrumento?
Na maioria dos casos, revisões anuais são suficientes, mesmo que seu instrumento esteja em perfeito estado de funcionamento.
O acompanhamento do desgaste natural das peças, principalmente para aqueles que possuem apenas um único instrumento ou os que estão constantemente na estrada, deve ser feito de forma regular. A manutenção preventiva pode evitar situações adversas durante o estudo ou apresentações.
Se você tem gosta de experimentar encordoamentos, captadores ou partes diferentes, é indicado revisar a regulagem sempre que essas trocas forem feitas, mesmo que seja apenas uma inspeção de rotina.
O que devo fazer para preservar a minha regulagem?
É ideal que o instrumento seja conservado sempre em local arejado, livre de insolação direta, ou de locais que sejam condutivos de calor (paredes que recebem luz do sol intensa).
Evite, principalmente em locais úmidos, guardar os instrumentos no case.
Apesar da facilidade, o case ou capa podem ser grandes retentores de umidade. Mais que a temperatura, a umidade tem influência direta na contração e dilatação da madeira, podendo causar danos estruturais. Nesse caso, recomenda-se a climatização do espaço onde se guardam os instrumentos, evitando os extremos (alta demais ou baixa demais).
Evitar deixar o instrumento sem cordas, ou afrouxar as cordas depois de tocar.
Afrouxar as cordas depois de tocar não é uma prática incomum, no entanto, não existem benefícios reais e podem comprometer tanto as cordas quanto o serviço de Regulagem. Durante a troca de cordas evite trocá-las todas de uma vez se não existir a necessidade de limpar e hidratar sua escala. Substitua uma por uma, principalmente em sistemas de ponte flutuante, afinando cada corda substituída na afinação para a qual foi regulada antes de trocar a próxima corda.
Se você se identificou com algum dos problemas citados acima e deseja fazer uma avaliação no seu instrumento, entre em contato conosco para agendamento da sua regulagem.